Exposição MEMÓRIA DOS NATAIS

MEMÓRIA DOS NATAIS: dois museus, uma exposição.

MEMÓRIA DOS NATAIS é a exposição que será inaugurada no Museu Quinta das Cruzes, no próximo dia 11 de dezembro, pelas 18 horas.

Trata-se de uma exposição conjunta entre o Museu Quinta das Cruzes e o MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, cujo projeto, coordenação e textos são de Márcia de Sousa, Teresa Pais e Rita Rodrigues.

Numa sala de exposição do Museu Quinta das Cruzes, e aproveitando a sua organização narrativa expositiva, entra para diálogo, partilha, aproximação e confronto uma obra contemporânea, de Daniel Vasconcelos Melim, intitulada «(Lapinha) nascer e morrer todos os dias», que integrou a exposição individual do artista na Galeria MUDAS.Museu, em 2016, «chão de orações». Executada em tinta-da-china, tinta acrílica e aguarela sobre papel (100 x 150 cm), alude esta obra a memórias, vivências e reflexões sobre a ilha da Madeira, ou à ilha geográfica e cultural, com resquícios natalícios, cuja exploração plástica, simbólica, metafórica e metafísica, vai muito além das tradicionais lapinhas insulares, embora tenha nascido dentro da sua configuração estrutural e tradicional.

Por outro lado, habita este espaço expositivo do Museu Quinta das Cruzes um retábulo, estrutura em tríptico, com três cenas: «Esponsais da Virgem», «Natividade» e «Adoração dos Reis Magos», obra executada em madeira de carvalho, datada do final da primeira metade do século XV e atribuída ao mestre / oficina do retábulo de Rieden (perto de Sahwäbisch Hall, Alemanha), que ao seu tempo de conceção e execução introduziu elementos e cenografias muito inovadores. Para compor a exposição MEMÓRIA DOS NATAIS, e sempre num sentido articulado entre diferentes obras, encontra-se nesta sala um conjunto de peças (figuras), de pequeno formato, em barro, dourado e policromado, que integram a exposição permanente do museu, outras trazidas do seu acervo, como grupos escultóricos representando a «Natividade», Reis Magos, pastores, anjos e animais, que integrariam composições de presépios. Algumas peças veiculam a gramática rocaille, anotando as influências do Iluminismo, valorizando as carnalidades e jogos sedutores, e outras mais próximas de um «realismo social», com figuras de cariz popular, muito enriquecidas pelo tratamento expressivo das personagens (rostos, corpos, panejamentos).

Devemos referir o sentido contemporâneo de todas as obras, aqui expostas nesta MEMÓRIA DOS NATAIS, desde as mais antigas, dos séculos XV ao XIX do Museu Quinta das Cruzes, à obra do MUDAS, do século XXI, pois são sujeitas, hoje, a leituras e interpretações à luz dos conhecimentos atuais, entendendo a sua trans-contextualidade, que permite acesso ao debate sobre a arte, obra de arte e produção artística, como defenderam, por exemplo, Umberto Eco (1932-2016) e Arthur Danto (1924-2013). Por sua vez, MEMÓRIA DOS NATAIS permite olhar o património cultural madeirense, desde as obras físicas, materiais, «coisal» (o ser da obra de arte), como referiu Martin Heidegger (1889-1976), colocando perguntas / questionação à própria obra de arte.

MEMÓRIA DOS NATAIS contribui para estudar e compreender o património madeirense enquanto representação, memória, história e arte. Não esqueçamos que a origem do «presépio madeirense» («escadinha» e «lapinha») é muito antiga, remonta ao povoamento do arquipélago da Madeira, estando a génese histórica da construção do «presépio de Natal» atribuída a São Francisco de Assis, que teve lugar em 1223, em Greccio (Itália), e na Madeira a comunidade franciscana marcou a sua presença na cultura religiosa desde o tempo do povoamento, com certeza trazendo consigo a tradição do presépio franciscano.

Márcia de Sousa
Rita Rodrigues
Teresa Pais